Sobre Maria Ulrich
Maria de Lima Mayer Ulrich, filha de Genoveva de Lima e de Rui Ulrich, nasce em Coimbra no dia 9 de março de 1908 e faz os seus estudos em França, onde frequenta vários cursos, entre os quais o de Filosofia e de Literatura Francesa. A sua ascendência, francesa do lado materno e alemã do lado paterno, influencia toda a sua educação e cultura. Em 1934, Rui Ulrich é nomeado para o cargo de embaixador em Londres e, com 26 anos, Maria Ulrich acompanha a sua família. Fica fascinada com a vivência de um comportamento democrático que contrasta em tudo com o que se vivia em Portugal na época e aproveita para aprofundar a sua cultura, beneficiando da vivência na embaixada que lhe dá acesso a uma diversidade de experiências positivas e enriquecedoras. Quando, em 1935, os pais regressam a Lisboa, Maria Ulrich, completamente desadaptada ao meio português, sente o vazio da sociedade que frequenta. O atraso civilizacional de Portugal, onde o regime ditatorial de Salazar fecha progressivamente o país ao exterior, torna-se, para Maria Ulrich, insustentável. Pensa emigrar para França, quando conhece Júlia Guedes, presidente da Ação Católica Portuguesa (uma organização já de 40 000 elementos), que determinará o rumo da sua vida. Aquele movimento vem ao encontro das suas preocupações com o desenvolvimento e o futuro de Portugal. Os seus membros eram convidados a participar de uma forma ativa e individualizada numa organização fortemente estruturada e hierarquizada, o que corresponderia também à sua ansiedade de pôr em prática um ideal coletivo.
Maria Ulrich deixa a Acção Católica, em 1950, para acompanhar a família, quando o seu pai é de novo nomeado embaixador em Londres. Nesta altura, revela já uma profunda convicção do que viria a ser o seu futuro profissional, como escreveria em 1987: “Todos os anos na JICF lançávamos uma campanha. Mas, de todas a que revelou o problema mais premente em Portugal foi a da Educação". Considerando grave a omissão do Estado nesta matéria, Maria Ulrich, aproveita a estadia em Londres para elaborar as bases do projecto de uma escola de educadoras de infância, acreditando que poderia transformar a sociedade através de uma ação direta junto das crianças e das famílias. Toma contacto com as escolas Montessori em Londres e visita as Escolas Ativas em Paris. Estuda história da educação e interessa-se, particularmente, por Rousseau, Froebel, Pestalozzi, Decroly, Claparède e Freinet. Mantém um contacto assíduo, por correspondência, com as escolas de educadoras francesas, nomeadamente com Madame Geneviève Flusin, secretária-geral do Mouvement Chrétien de l’Enfance, em Paris. Quando, em fins de 1953, regressa a Portugal, tem já concluído o projeto da Escola de Educadoras de Infância. Em Outubro de 1954, Maria Ulrich inaugura em Lisboa uma das primeiras escolas de educadoras do país com o apoio e a supervisão de educadoras francesas.
“A nossa Escola surge, independente (como tudo o que fiz na vida), sem meios sem subsídios, como uma aventura. Determinada a formar profissionais competentes, que participem ativamente na sua autoeducação, e que intervenham na sociedade de modo a torná-la cada vez mais democrática nos valores que a suportam e nas ações que a concretizam. Pela formação dos educadores pretendemos chegar às crianças, porque o mundo depende dos novos, e os novos são o que for a sua infância”.
Maria Ulrich
Em 1957, Maria Ulrich funda a Associação de Pedagogia Infantil. No momento da sua morte (25 de novembro de 1988), deixa ainda institucionalizada a Fundação Maria Ulrich, destinada a dar apoio e desenvolver ações no âmbito da educação e da cultura dentro de uma perspetiva humanista cristã, e a Casa-Museu Veva de Lima, casa onde viveram os seus pais, e cujo espólio doou em parte à Câmara Municipal de Lisboa para que se criasse um “centro cultural vivo”. A Casa Veva de Lima pretendia continuar a antiga tradição familiar dos encontros culturais herdada dos “Vencidos da Vida” e mantida por Maria Ulrich ao longo de toda a sua vida.
O Projeto de Escola idealizado e realizado por Maria Ulrich revela uma grande modernidade de pensamento e uma profunda perceção da realidade. A aposta na construção autónoma do ser, na liberdade, na responsabilidade e na participação, deu ao projeto de Maria Ulrich uma coerência que justifica a importância que deve ainda ter, hoje, na formação de educadores.